O fim de semana reuniu gerações no Centro Universitário Barriga Verde (Unibave), em Orleans, desde o jovem Andreis Purim, de 24 anos, ao seu Edmar Grimm Berg, de 80 anos. O mais experiente morador de Ijuí, no estado gaúcho, visita Orleans pela primeira vez. Já o segundo, de 24 anos, mora em Campinas, interior de São Paulo, mas é natural de Curitiba, no Paraná, com raízes na comunidade de Rio Novo, local onde o pai, Carlos Ademar Purim, morou até os 12 anos. A característica comum entre os dois é o motivo que os traz até a cidade, dote da princesa: ambos possuem ascendência de letos.
Durante todo o fim de semana, Orleans recebeu o 72º Congresso da Associação Batista Leta do Brasil, que reuniu cerca de mil pessoas, vindas dos três estados do sul do Brasil, além de Recife, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Segundo a diretora do Museu ao Livre, Valdirene Böger Dorigon, pelos registros nos arquivos do Museu, no ano de 1897, Orleans tinha cerca de 160 Letos. Já em 1922, eles já eram 227, com registros nas comunidades de Invernada, Rio Carlota, Centro e em Rio Novo, onde construíram a primeira Igreja Batista no Brasil.
Na sexta-feira (9/06), parte dos visitantes realizaram uma visita guiada nos espaços do Museu ao Ar Livre Princesa Isabel (Malpi), para conhecerem um pouco de como viveram os primeiros imigrantes e as tecnologias desenvolvidas na época. Segundo o museólogo do Unibave e do Malpi, Idemar Ghizzo, os imigrantes vieram cumprir a política de ocupação demográfica do Governo do Império, onde os agentes foram em busca de ocupar esses lotes que eram vendidos pelas empresas. Foi onde os letos vieram para o Rio Novo e se instalaram, ajudando a desenvolver parte da tecnologia que foi exposta. “Não dá para dizer se é dessa ou daquela etnia. Foi um conjunto de imigrantes que desenvolveu”, afirma o estudioso.
A vereadora orleanense Mirele Debiasi, que é de ascendência letã, comentou que se emocionou ao ver tantas pessoas, em ouvir tantas histórias dos bisavôs e dos avós. “Principalmente aquilo que mais une, que mais movimenta esses ascendência, que é a fé. Tanto que o lema do nosso congresso era ‘O evangelho é a nossa história’. Foram dias intensos”, disse.
Para Mirele o congresso foi importante, pois é um evento nacional e de valorização da história. “Foram quatro dias de movimentação na cidade, no nosso comércio. Que criou uma grande marca para valorização, para lembrança e importância do leto aqui no nosso município, com um momento único”, afirma.
Ajuda humanitária na Guerra da Ucrânia
O que fez os Letos migrarem foi a guerra com a Rússia. Muitos eram chamados para servir o exército e, para não ir, vieram para o Brasil. Já o engenheiro de computação, Andreis Purim, fez o inverso, foi a Guerra na Ucrânia.
Andreis esteve na Letônia cinco vezes. O interesse em conhecer mais as origens iniciou em 2013, quando esteve na comunidade de Rio Nova em Orleans, num Congresso Leto. Em 2014, com 14 anos, foi conhecer a Letônia pela primeira vez. Conheceu o país, estudou o idioma e deu encaminhamento à cidadania. Em 2017 a documentação ficou pronta e, junto com seus pais, foi lá buscar. Em 2019, aos 20 anos participou de um acampamento cultural. Depois fez intercâmbio na França durante dois anos. Ficou quatro meses na Letônia e se voluntariou ao exército.
Quando ainda estava na França, iniciou a Guerra. “Quando deu a guerra eu tinha muitos amigos na Ucrânia. Fiquei agoniado, queria fazer algo”, explica. Ainda na França entrou em contato com amigos em Riga, na Letônia, e depois com a chefe de uma ONG em Lviv, para levar doações. Atravessou a Polônia, junto com o motorista de ônibus, e foi distribuindo doações em Lviv e depois na capital, Kiev. “Foi uma experiência muito legal”, afirma o engenheiro que é reservista do exército leto.
Ele diz que tem vontade de voltar. A irmã, Mirela Purim, que é um ano mais velha, com 25 anos, mora atualmente na Letônia. Ela esteve em Orleans em 2021 junto com o pai, Carlos, que veio visitar o Museu e a comunidade do Rio Novo. “Em 2013 eu descobri como Leto aqui em Orleans”, revela Andreis.